O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu nesta quinta-feira (24), em uma rede social, que um navio do Greenpeace pode ter relação com o derramamento de óleo que afeta o litoral do Nordeste desde o final de agosto. Ele também cobrou “explicação” da ONG e, mais tarde, disse que uma embarcação da entidade “não se prontificou a ajudar” .
O Greenpeace, por sua vez, afirmou ser alvo de um ataque com “mentira” e citou que “está ajudando a combater os impactos gerados por esse vazamento e cobrando ações”. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), entrou na discussão e escreveu que o ministro “faz ilação desnecessária”.
Veja, abaixo, a sequência de comentários:
- No início da tarde desta quinta, Salles publicou um post no Twitter sugerindo que um navio do Greenpeace, ao qual se referiu como termo “#greenpixe”, tem relação com as manchas de óleo;
- O post do ministro é acompanhado da foto de uma embarcação da ONG. A imagem, na verdade, foi registrada em 2016 no Oceano Índico;
- Em nota divulgada depois do comentário, o Greenpeace chamou a acusação de “mentira”;
- Mais tarde, ao participar de uma entrevista coletiva em Aracaju, Salles declarou que a ONG deve “se explicar”;
- Já no fim da tarde desta quinta, Rodrigo Maia escreveu, também no Twitter, que aguardava “posição oficial do Ministério do Meio Ambiente” com relação ao comentário inicial de Salles;
- Em resposta a Maia, o ministro adotou um tom diferente e disse que o Greenpeace “confirma que navegou pela costa do Brasil na época do aparecimento do óleo venezuelano” mas “não se prontificou a ajudar”;
- O presidente da Câmara, por sua vez, agradeceu pela resposta do ministro, mas disse que ele “faz uma ilação desnecessária” ao associar o Greepeace ao derramamento de óleo;
- Por fim, o Greenpeace divulgou comunicado no qual afirma que está “ajudando a combater os impactos gerados por esse vazamento”. A ONG ainda que vai tomar “todas medidas legais cabíveis contra todas as declarações falsas do ministro Ricardo Salles”.
O que disseram Salles e o Greenpeace
Na mensagem que desencadeou a discussão, Ricardo Salles escreveu: “Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…”.
Em nota, a ONG respondeu: “Enquanto o óleo continua atingindo as praias do Nordeste, o ministro Ricardo Salles nos ataca insinuando que seríamos os responsáveis por tal desastre ecológico. Trata-se, mais uma vez, de uma mentira para criar uma cortina de fumaça na tentativa de esconder a incapacidade de Salles em lidar com a situação”.
De acordo com o Greenpeace, o navio ao qual o ministro se referiu é o Esperanza, que faz parte de uma ação internacional que denuncia ameaças aos mares. Trata-se de uma embarcação de 72 metros de comprimento e capacidade de 40 passageiros, usada “para fins de pesquisa e expedição”. A capacidade de carga é bastante limitada com relação aos navios do tipo tanque, que transportam petróleo — estes têm até 294 metros.
O comunicado da ONG diz que “o navio não tem estrutura para fazer transporte de material como óleo, que queria, inclusive, de ser autorizado”. “O combustível utilizado no Esperanza é Diesel – com capacidade para carregar 400 metros cúbicos –, porém na maior parte do tempo navegamos de modo elétrico.”
O texto afirma: “Por ser um navio de pesquisa, ele não pode navegar em águas brasileiras sem autorização da Marinha, que exige, em média, 180 dias para conceder essa autorização. Além disso, a Marinha também exige que a solicitação seja via instituto ou universidade brasileira, e o inventário de todos os equipamentos técnicos do navio. Assim, sem a possibilidade de o navio vir ao Brasil, e distante da costa, o Esperanza seguiu o plano de continuar sua missão na campanha global Proteja os Oceanos”.
Maia disse que Salles faz ‘ilação desnecessária’
Já na tarde desta quinta, em Aracaju, Salles foi perguntado por jornalistas sobre a postagem que iniciou a controvérsia. Ele afirmou:
“Eles [o Greenpeace] confirmaram que estavam navegando na costa brasileira. Portanto quem tem que se explicar são eles”.
O ministro acompanhou o presidente da República em exercício, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), em visita à capital de Sergipe.
Rodrigo Maia, por sua vez, cobrou explicações do Ministério do Meio Ambiente com relação ao primeiro comentário de Salles, dizendo que aguardava “uma posição oficial” da pasta.
O ministro, então, afirmou: “Presidente, o navio do Greenpeace confirma que navegou pela costa do Brasil na época do aparecimento do óleo venezuelano, e assim como seus membros em terra, não se prontificou a ajudar”.
Maia, por sua vez, afirmou que o comentário inicial do ministro fazia uma “ilação desnecessária”.
Em nota divulgada na noite desta quinta, o Greenpeace afirma:
“Consideramos a situação do óleo no Nordeste extremamente grave. Estamos participando dos esforços, apoiando o trabalho das populações locais e ajudando com nossas equipes de voluntários. Cobramos ainda responsabilidade das autoridades com relação a exposição das pessoas que arriscam a saúde ao lidar diretamente com as substâncias tóxicas. Portanto, as acusações do Ministro não correspondem à realidade. O Greenpeace está ajudando a combater os impactos gerados por esse vazamento e cobrando ações.
Tomaremos todas medidas legais cabíveis contra todas as declarações falsas do Ministro Ricardo Salles. As autoridades têm que assumir responsabilidade e responder pelas suas obrigações e declarações à luz do Estado de Direito”.